Luísa's Wedding

Miguel von Hafe Pérez

Text that accompanied the exhibition Luísa's Wedding at Galeria Fernando Santos, in April 2018.

Published in 2018
By Galeria Fernando Santos

Luísa's Wedding is an emancipated, fluid exhibition in which pleasure assumes a political sense of becoming. In these paintings, in which bodies gravitate freely, the underlying canon is the happiness of the encounter, of touch, cross-breeding and dilution of boundaries between genres. The pleasure of taking a break in the existential interval of the rational determinism of supposed economic and social effectiveness. Art as the possibility of opening up significant parentheses in the expected run of events.

The exhibition is divided into two core nuclei, in function of the exhibition space’s different lighting environments. Encaustic paintings of medium- and large-scale dimensions are shown in the main rooms, with two panels of drawings in the side rooms. The paintings on raw cotton are crossed by a transparency that contributes to their reiterated watery state. Encaustic painting involves heating the wax as a binder and the warm colours seem to respond powerfully to this process, suggesting an execution which is intuitive, rather than being compositionally structured, corresponding to the need to work quickly because of the relatively short drying times. In the drawings, by contrast, we don’t detect the transparency effect of the raw cotton. The colours are colder, and the compositions are simpler and fragmentary. In this back-and-forth movement between ecstasy and distension, the works establish an indeterminate fabrication across time and space - an erratic magma of the here-and-now, as a vital flow in the pursuit of pure happiness.

Priscila Fernandes (Coimbra, 1981) is a Portuguese artist based in Rotterdam, Netherlands. She has a consistent international career and currently teaches in the Gerrit Rietveld Academie in Amsterdam.

Through in-depth analysis of systems of representation, education and society in the modern world, she uses a wide spectrum of media - such as video, installation, photography and drawing - to map a personal vision that reveals the structure beneath models of conviviality, work and behaviour. Commencing with historical narratives (e.g. those proposed by modernist painters or teachers) or fictional narratives (in which utopias serve as metaphor for fleeing from conventional ideas), she establishes unexpected parallels between play and work structures, between learning and social conditioning.

Using these practices and methods, she has already won considerable national and international recognition (including the EDP New Artists Award in 2011 or participation in the São Paulo Biennale in 2016). However this new exhibition - Luisa's Wedding – marks a turning point in her career. Although formally conceived using the traditional disciplines of painting and drawing, the exhibition refers to a recurring conceptual matrix that underpins much of her work: a malleable visual language is used to express a specific propositional reality. The resulting tension informs the perceptive games, colour and composition which are thus historically and socially conditioned.

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Luísa's Wedding (PT)

Miguel von Hafe Pérez

Text that accompanied the exhibition Luísa's Wedding at Galeria Fernando Santos, in April 2018. Portuguese version.

Published in 2018

Priscila Fernandes (Coimbra, 1981) é uma artista portuguesa que vive em Roterdão, Países Baixos. Mantendo uma continuada e consistente carreira internacional, atualmente leciona na Gerrit Rietveld Academie em Amesterdão.

Mediante uma reflexão incisiva sobre os sistemas de representação, educação e socialização nas sociedades modernas, a artista tem vindo a utilizar um amplo espectro de meios, como o vídeo, a instalação, a fotografia e o desenho para cartografar uma visão que cristaliza o modo como se estruturaram modelos de convivialidade, trabalho e desenvolvimento comportamental. Partindo de narrativas históricas (como por exemplo na figura de pedagogos ou pintores modernistas) ou ficcionadas (onde as utopias servem de metáfora para a fuga ao convencional), Priscila Fernandes estabelece paralelos inesperados entre mecanismos de jogo e estruturas de organização de trabalho, entre a aprendizagem e o condicionamento social.

Se essa linha de trabalho lhe deu reconhecimento nacional e internacional (nomeadamente com o Prémio Edp Novos Artistas em 2011 ou a participação na Bienal de São Paulo em 2016), a presente exposição, intitulada Luísa’s Wedding poderia ser percebida como um ponto de ruptura com práticas e métodos anteriores.

Formalmente concebida a partir das tradicionais disciplinas da pintura e do desenho, esta mostra remete, no entanto, para uma recorrente matriz conceptual que ancora grande parte da prática desta autora: a adequação de uma linguagem plástica a um determinado contexto propositivo – a tensão que daí pode advir -, e os jogos percetivos, ainda que histórica e socialmente condicionados, que dispositivos como a cor e a composição reclamam do espectador.

Dividida em dois núcleos que repercutem os diferentes ambientes lumínicos do espaço expositivo, nas salas principais apresentam-se pinturas de média e grandes dimensões; nas salas recuadas dois painéis de desenhos. As pinturas são encáusticas sobre algodão cru, que se deixam atravessar por uma transparência que contribuí para o seu reiterado estado aquoso. As cores quentes parecem responder ao processo de aquecimento da cera como aglutinante que esta técnica implica, num procedimento que aponta para uma execução mais intuída do que compositivamente estruturada – o que aliás corresponde à necessidade de trabalhar com alguma rapidez, dado o tempo relativamente curto de secagem. Nos desenhos não se deteta o efeito de transparência do algodão cru: a cor é mais fria, as composições mais simples e fragmentárias.

Neste movimento pendular entre o êxtase e a distensão, estas obras estabelecem uma tessitura indeterminada no espaço e no tempo, um magma errático do agora como fluxo vital na exploração da felicidade pura.

Luísa’s Wedding é uma exposição libertária, fluída, onde o prazer assume um devir político. Nestas pinturas onde corpos gravitam sem regra, o cânone é o da felicidade do encontro, do toque, da miscigenação e diluição de fronteiras entre géneros.
O prazer do lazer em intervalo existencial do determinismo racional da suposta eficácia económica e social. A arte como possibilidade de abrir parêntesis significativos no expectável. É esta a discreta magnitude da presente proposta de Priscila Fernandes.

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